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  • TATA LUIS

O CANDOMBLÉ NÃO EXPLICA A UMBANDA


  • “Obá, Ewá, Logunedé e Oxumarê não existem na Umbanda!”

  • “Na Umbanda não pode haver filhos de Exu!”

  • “Na Umbanda não há filhos de Oxalá porque Oxalá não baixa na Umbanda!”

  • “Homem não pode ser filho de Ewá, de Obá ou de Nanã!”

  • “Ninguém pode ser filho de Nanã com Ogum!”

  • “Na Umbanda não pode haver jogo de búzios!”

  • “Mulher não pode tocar atabaque!”

Essas são algumas frases que já escutei por aí. Mas, substituo todas elas pela famosa frase de autoria de Alexandre Cumino, que diz: “a Umbanda não explica o Candomblé, e o Candomblé não explica a Umbanda!”. Essa frase é tão verdadeira e diz tanta verdade, que dá vontade de iniciar todos os textos com ela, já que ela já explica e desfaz muitas confusões e contradições que acontecem quando umbandistas tentam entender a Umbanda tomando por base a ótica do Candomblé, e quando candomblecistas querem explicar a Umbanda pelo que conhecem de suas próprias verdades.

Gente! Umbanda é Umbanda, e Candomblé é Candomblé! Embora Jesus seja o mesmo, o evangélico não tem o direito – e nem condições - de dizer se a forma como o católico o cultua está correta ou não, e vice-versa! Embora tenhamos os mesmos Orixás, o candomblecista também não tem condições de dizer o que está certo ou não na Umbanda, e nem o umbandista tem de dar “pitaco” no Candomblé! O evangélico acha que é o único que sabe como cultuar Deus, e que não há outra maneira que lhe agrade mais e que seja mais correta que aquela que aprendeu em sua igreja; mas tem que guardar essa convicção para si, para praticá-la em seu templo! Não tem o direito e nem a competência de julgar se o mesmo Deus está satisfeito ou não com a forma como o católico o cultua, por exemplo. Da mesma forma o candomblecista! Ele sabe como se cultua Orixás EM SUA religião, mas não tem o direito de julgar se a forma como são cultuados e entendidos em outras religiões – na Umbanda, por exemplo – está correta ou não! As verdades nessas crenças são diferentes, e cada um deve cuidar da sua, lembrando sempre que, embora haja semelhanças, a Umbanda e o Candomblé são religiões muito diferentes, com conceitos e fundamentos diferentes e que acreditam em coisas que podem até ser parecidas, mas que, na prática, NÃO SÃO. Portanto, por falta de capacidade, autoridade e competência para tal, uma não pode interferir, julgar ou explicar o que acontece na outra, como já dizia a frase de Alexandre Cumino!

Toda essa explicação é necessária porque já escutei de muitos umbandistas a preocupação em relação às frases citadas no início deste texto e, especificamente, em relação aos seus Orixás serem ou não, realmente, aqueles identificados pelo seu pai ou mãe de terreiro; e isso porque, em algum momento, esse mesmo médium de Umbanda foi conversar com alguém de Candomblé, e esse alguém lhe disse que tal Orixá seria impossível, porque “só no Candomblé pode ser cultuado”, ou porque “não possui filhos na Umbanda”, ou porque “não possui filhos daquele sexo”, ou ainda porque “não combina com o segundo Orixá também atribuído ao médium”, e mais um monte de porquês. Pronto: dúvidas na cabeça!

PÁRA TUDO!!! Esses conceitos podem ser verdadeiros – e são - LÁ no Candomblé! Lá, uma pessoa não pode ser filha daquele Orixá porque é homem, ou não pode ser filha daqueles dois Orixás porque eles não combinam entre si, e etc! Mas isso é LÁ! E lá é uma outra religião! Como eu disse, o evangélico também tem suas concepções, entendimentos e convicções sobre o que é certo em relação a Deus, e não admite que esse mesmo Deus possa ser entendido e cultuado de outra forma, em outra religião, e que essa outra maneira também possa estar correta. De modo semelhante, infelizmente, muitos candomblecistas têm dificuldade de entender que os mesmos Orixás que cultuam em seus barracões possam ser entendidos e cultuados na Umbanda de modo bastante diferente, e com outros conceitos, inclusive! O evangélico radical é capaz de dizer: “só há um Deus verdadeiro, o único caminho que leva a Ele é o que a minha religião ensina e a forma correta de cultuá-lo é como a minha igreja faz!”. Da mesma forma, candomblecistas radicais tendem a dizer: “Somente no Candomblé pode haver determinado Orixá, pois ele só existe na cabeça de alguém se forem feitos determinados rituais e usadas folhas que só no Candomblé se usa!”. Alguns chegam mesmo a dizer que “na Umbanda não existe NENHUM Orixá, mas somente EGUNS!”. Será que fica difícil de perceber que ambas as visões são semelhantes, mudando apenas a religião?

Para confundir ainda mais a cabeça do médium umbandista, há candomblecistas que, por já terem sido da Umbanda, acham-se em condições de apontar se aquilo está certo ou errado nos seus rituais, mesmo que o tempo em que lá passaram tenha sido pequeno ou tenha acontecido há muitos anos atrás, quando havia maior ignorância e menos estudo por parte dos umbandistas em geral e, por conseguinte, que não corresponda mais ao que hoje é entendido como correto dentro da Umbanda. Mas, vamos refletir um pouco mais? O atual evangélico que já foi candomblecista nunca entendeu completamente a proposta do Candomblé, e nunca se identificou verdadeiramente com essa religião, tanto que resolveu mudar; por isso, acho difícil esse evangélico ter como opinar com propriedade sobre o Candomblé (embora ele ache que tenha)... Da mesma forma, o candomblecista que já foi umbandista, converteu-se ao Candomblé porque se identificou mais com ele do que com a Umbanda! E isso, talvez, porque não a tenha entendido corretamente ou compreendido a fundo a sua proposta! Se questionado, o evangélico ex-candomblecista afirmará com plena convicção que conhece bem o que é o Candomblé, e poderá resolver sair por aí explicando-o pelo que acha que entende. Se também questionado, o candomblecista ex-umbandista também poderá jurar que conhece a fundo o que é Umbanda e sentir-se apto a opinar sobre ela. Mas será que tanto o ex-candomblecista quanto o ex-umbandista entenderam realmente o que são essas religiões? Ao invés do evangélico falar sobre o que é o candomblé, e do candomblecista falar sobre o que é Umbanda, não seria melhor perguntarmos diretamente a seguidores atuais dessas religiões? Quem está mais apto a explicar o que é o Candomblé: o evangélico ex-candomblecista ou o candomblecista real, de fato e de coração? E em relação à Umbanda; não seria a mesma coisa? Por que perguntar, então, a um ex-umbandista, que não tenha acompanhado DE DENTRO todas as metamorfoses e desenvolvimento pelos quais a Umbanda passou nas últimas décadas?

Umbanda e Candomblé NÃO são a mesma coisa, NÃO são variações da mesma religião e NÃO são religiões complementares. São religiões DIFERENTES! Já ouvi de alguns candomblecistas a afirmação de que a Umbanda seria como o “ensino médio” e o Candomblé como a “universidade”, dando uma ideia de que a Umbanda não seria completa por si só, de que os ensinamentos do Candomblé seriam mais avançados que os da Umbanda, ou mesmo mais abrangentes que os dela. Dando a impressão, também, de que a conversão de uma pessoa da Umbanda para o Candomblé seria um fator natural para o umbandista que desejasse maior conhecimento, e que, por esse mesmo motivo, o conhecimento do Candomblé seria mais profundo que o da Umbanda. O erro disso tudo é acreditar que o conhecimento do Candomblé seja complementar ao que é ensinado na Umbanda. Não, NÃO É! O que é ensinado no Candomblé, definitivamente, não interessa à Umbanda e nem interfere sobre ela. Assim como o que acontece na Umbanda não deve interessar ao candomblecista. Os caminhos são diferentes e, por isso, não se pode dizer que o que o Candomblé ensina é mais profundo ou mais raso que o que a Umbanda ensina. Não há como comparar coisas diferentes!

A Umbanda já enfrenta, INTERNAMENTE, seus próprios grandes desafios, já que cada terreiro de Umbanda entende a religião de uma maneira própria. Mas a situação complica mais quando, como se não bastassem os desentendimentos internos, pessoas de outras religiões colocam mais lenha na fogueira, ao suscitarem dúvidas em umbandistas, tendo por base a visão de sua própria crença. E parte da culpa dessa situação vem dos próprios umbandistas. Não vemos católicos perguntando a evangélicos sobre como se deve cultuar a Deus e louvar a Jesus, porque não interessa aos católicos o que os evangélicos entendem como correto, ainda que se trate do mesmo Deus! Também não vemos espíritas perguntando a umbandistas sobre como incorporar melhor os espíritos; mas vemos com constância, umbandistas procurando candomblecistas e sites de Candomblé para obterem informações sobre Orixás e rituais, como se tudo fosse a mesma coisa, como se Umbanda e Candomblé fossem variações da mesma religião, e consentindo aos candomblecistas a autorização para opinarem sobre a sua Umbanda e de a interpretarem segundo as convicções de sua Nação, podendo gerar grandes dúvidas na cabeça do médium umbandista que ainda não conhece a fundo a sua religião.

Mas, como nosso objetivo é esclarecer, voltemos àquelas sete frases com que iniciamos esse texto. Essas são algumas frases que refletem a visão DO CANDOMBLÉ sobre a forma como as coisas teriam que acontecer na Umbanda. Existem muitas outras frases desse tipo! E pode até ser que algum terreiro de Umbanda compartilhe de algumas dessas ideias, já que, como falei, a própria Umbanda é diversa em conceitos e entendimentos. Em nossa visão doutrinária, por exemplo, de acordo com a singularidade de cada médium e com maiores explicações que, infelizmente, não caberão nesse texto, tudo aquilo citado lá no início, como impossível de acontecer segundo a ótica candomblecista, é considerado viável na Umbanda SIM! E, não somente nós, mas muitas outras escolas umbandistas assim também consideram, aliás a maioria! Na Umbanda, para quem não sabe, há várias escolas diferentes, e cada uma delas com sua própria visão. E isso é aceitável, pois, embora os entendimentos possam até diferir em alguns aspectos, são entendimentos nascidos e desenvolvidos DENTRO da mesma religião, e não importados de outra, sendo, por isso, legítimos! É a própria Umbanda crescendo, se desenvolvendo e procurando se entender!

Temos escolas maravilhosas e que fazem excelentes trabalhos, como a própria Umbanda Tradicional, o Primado de Umbanda, a Umbanda Esotérica, Umbanda Astrológica, Umbanda Sagrada, Umbanda da Magia Divina, Umbanda Crística, Umbanda Omolocô, etc. Todas são Umbandas! E, com tantas escolas e com essa abundância de informações geradas no próprio seio umbandista, não é preciso – e nem inteligente - que qualquer médium de Umbanda vá buscar no Candomblé explicações e orientações para nossos rituais. Isso, sem contar que, no nosso dia a dia, além de cada dirigente umbandista cheio de conhecimento para repassar, há, ainda, fontes maravilhosas de sabedoria ao nosso alcance, que são nossos Guias e amparadores. Falta, portanto, ao umbandista ser mais umbandista! Entender o Candomblé como uma outra religião, com quem partilhamos alguns conceitos, mas de quem somos fundamentalmente diferentes! Falta ao umbandista – e também ao candomblecista – parar de entender o Candomblé como um “irmão mais velho”, mais experiente, que detém mais conhecimentos e que deve ser consultado em caso de dúvidas! Aliás, dúvidas de umbandistas devem ser sanadas dentro da própria Umbanda, assim como as do evangélico devem ser resolvidas pelo seu pastor! O respeito que deve existir entre Umbanda e Candomblé é como o respeito que deve existir entre irmãos sim, mas só isso, sem a conotação de quem sabe mais, de quem dita regras ou de quem conhece mais a fundo o que é Orixá, já que ambas as religiões são donas de suas próprias verdades, e o conhecimento de uma não interfere sobre o da outra! Cada uma tem seus próprios métodos, entendimentos e formas de trabalho, sendo completas por si só e independentes, autônomas e 100% capazes.

Aliás, precisamos chamar a atenção também para esse detalhe. Já escutei muitas pessoas dizendo que saíram da Umbanda e foram para o Candomblé porque sua situação espiritual assim exigia, porque tinham que cuidar de tal Orixá no Candomblé, etc. O interessante é que nunca ouvi um católico dizer que foi para a igreja evangélica porque precisou de “algo mais forte”, ou de um budista que foi para o hinduísmo porque precisava de algo “mais de raiz”. E sabe por que? Porque isso NÃO EXISTE! Religião é coisa de foro íntimo, e cada um deve procurar o lugar em que se sinta bem, em que se sinta encontrando com Deus, sem que qualquer outra pessoa ou entidade lhe force a outro caminho. Isso se chama LIVRE-ARBÍTRIO, uma lei criada por Deus e que não pode ser desprezada ou violada nem por sacerdotes, nem por entidades e nem por ninguém! O que existe, portanto, não é a necessidade de uma pessoa sair de uma religião para outra, mas sim a necessidade de procurar estar em contato com o Criador ONDE SE SINTA BEM, onde encontre paz para o coração, para que possa, de fato, receber ali, integralmente, o auxílio espiritual durante aqueles momentos de exercício religioso. Agora, da mesma forma que, se o católico for consultar o evangélico sobre o que deve fazer de sua vida espiritual, receberá, provavelmente, a resposta que deve se converter ao pentecostalismo, é possível que, ao se consultar alguém de Candomblé, se escute conselhos semelhantes, revestidos da explicação de que o Orixá assim quer. Infelizmente, isso também acontece em alguns terreiros de Umbanda, que tentam converter as pessoas através do medo.

Resumindo, sejamos, portanto, mais umbandistas! Busquemos o conhecimento em nossas próprias raízes, na escola umbandista a que o templo pertence, no nosso Caboclo e no que o Preto-Velho ensina! Fazendo dessa forma, não teremos informações importadas de outras crenças para dentro de nossas casas como se fossem verdades absolutas, ditadas por quem nem da mesma religião é!

Umbanda é Umbanda, e Candomblé é Candomblé! Ambas as religiões são lindas e detêm uma gama de conhecimentos maravilhosa. Mas esses conhecimentos são próprios de cada uma, e são eles que as tornam belas, especiais e as diferenciam uma da outra. O problema é quando uma tenta explicar a outra com a visão de fora, segundo sua própria ótica e entendimento. Isso não dá certo! Nunca deu! E Alexandre Cumino já tinha razão!

Amplexos,

Tata Luis

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